segunda-feira, 30 de junho de 2008

Já conduzo!!! ...Formosa mas não segura...

Ontem conduzi de Bragança a Macedo de Cavaleiros!
Foi a primeira vez que conduzi por tanto tempo!

São cerca de 43 Km, com parte do percurso pela auto-estrada e uma pequena parte entre curvas e mais curvas na primeira entrada para Macedo,agora cidade, antiga vila.Demorei uns 45 minutos.

Decidi por impulso, ao sairmos domingo á tarde para um jantar em casa dos meus padrinhos.Disse á minha mãe, a condutora, já todos na garagem: "-Ó mãe deixa-me levar o carro só até lá acima á estação de serviço , a ver como me porto?" ;
e o meu pai encorajou-me: "-Então não há-des levá-lo? Vai e leva-o até Macedo!!";
a minha mãe desencorajou-o: "-Não!,não senhora!! Ainda é muito para ti filha!";
e eu, tentada e com um súbito frio na barriga: "-Não sei...se calhar...Não sei se sou já capaz de conduzir tanto...Levo-o só até antes de entrarmos na Via-rápida.";
e pensei para mim:" A ver como te sentes este bocadinho, depois logo vês!"

E lá fui eu mais o resto da família( só faltando a minha irmã do meio que está em Lisboa), após os preparativos: O acomodar-me no carro que é já antigo e tem os estofos fundos, duas almofadas no assento, recostar o encosto da cadeira, o medir a distância dos pedais que este grande Nissan Bluebird tem a embraiagem muito lá no fundo! Saída pouco confiante da garagem com protestos e orientações de "arrumador" do meu pai ,eu a respirar fundo, lombas, semáforos, embraiagem, velocidade baixa, o olhar alternado entre os espelhos,o velocímetro,a preocupação de chegar á embraiagem...
Ao aproximar-me das bombas de gasolina não me desviei para parar, antes disse: "-Afinal sigo até Macedo!" Um silêncio, pouco aprovador da minha mãe, que sabe que eu não gosto de conduzir a "banheira" grande que é este carro ainda que até se conduza bem por ser a gasóleo.: "-Ai filha! Assim não quero! Não me deixaste preparar antecipadamente. Assim não sei..." ; as ordens, mais que orientações, do eterno co-piloto da minha mãe, ou seja o meu pai, ao meu lado: "-...Primeira, segunda, mete a quarta, ...não precisavas de reduzir! Ai esse pé! Que estás a fazer??? Para que sais tanto da estrada? Não vás tão encostada á berma!..."
E eu a ficar enervada, pois já não sou tão rápida como era, o cérebro manda, a resposta tarda, o pé a demorar a sair da embraiagem, o Vvvrrurummmmm de protesto do carro, o pé esquerdo a escorregar da embraiagem, a entalar-se no pedal do descanso, a não ter força suficiente para o repôr rapidamente no pedal certo, uma vez a passar de quarta para terceira em vez de quarta para quinta, o protesto do carro, a minha mãe a replicar: "Ai, Nossa Senhora!", o meu pai a barafustar como se tivesse doído mais ao carro que aos músculos lentos da minha perna esquerda...
Eu tentei estar calma. Não consegui. A minha paciência a ficar em frangalhos.

Teve de ser! Fui bruta:
" -Calem-se! Não me enervem mais do que eu já estou!...Deixem-me! Experimenta estar um ano sem conduzir,pai! Não é fácil! O pé não me obedece! ...Que foi? Eu conduzo melhor que tu, mãe! Qual é o problema do carro ripostar? Não bati em ninguém, pois não?...Ai! Deixem-me! Ainda estou a experimentar! Tenham calma!!..."

Teve de ser! Protestos da minha mãe: "-...mas não precisas de ser assim, tão bruta! tens de ser mais humilde!...";
Um "Ohh!" irritado,curto, exclamativo meu!
Resmungos amuados do meu pai, que cruza os braços ao mesmo tempo, contrariado!
Depois um silêncio, eu a respirar fundo, a ver a cabeça da minha mãe pelo espelho a tentar espreitar o velocímetro, quando ela muito facilmente, sem se aperceber passa da velocidade recomendada pois o carro é tão bom de conduzir em estrada: "-Que é mãe? Só vou a 90!!"

Depois falei calmamente, expliquei onde sentia dificuldades, pedi colaboração ao meu pai: "- A quinta aguenta aqui na subida??"
Esta minha família ás vezes é de perder a calma! É dificil ser calma, sendo eu calma por natureza! Eu sei que é preocupação e protecção dos meus pais em relação a mim, mas por vezes sinto-me como que presa, abafada, sem espaço!!
O ambiente acabou por sossegar mas eu comecei a sentir-me desconfortável ao entrarmos na primeira entrada para Macedo: O STOP, as muitas curvas, o reduzir constante da caixa de velocidades, o pé no travão. Devagarinho, lá ia. Silêncio concentrado no carro! Sou lenta, mas agora mais, a tirar o pé da embraiagem e o carro fica a reclamar!Mas sempre foi assim, desde a aprendizagem da Carta.Ossos do meu organismo!Comecei por optar deixar o pé constantemente apoiado na embraiagem. Mas cansa também, sei que não devo!Estou a aprender não o deixar lá!

Chegamos!!! Pisca para a esquerda,entrada num passeio, inversão de marcha para estacionar ao lado da casa dos meus padrinhos, o Boris já a ladrar, as orientações de "arrumador" do meu pai mesmo dentro do carro.Achei que o carro não ficou bem encostado ao passeio debaixo da sombra da árvore, quiz endireitar embora já estafada e ... "-Ai! Ai! Ai!"
Uma grande dor na coxa esquerda, nos músculos de trás: uma horrível e aguda cãimbra! Deixei o carro descair, bateu no passeio. Ai que dor! Travão de mão. O que vale é que já estavamos parados! Era isto que eu receava. A família saiu, aliviada, enquanto eu esperava que a dor passasse! Depois lá endireitei o carro.
Saí exausta do carro, insatisfeita! Uma perna de cada vez,por partes, descaindo primeiro o banco para trás para dar espaço .Correu bem, não correu muito mal, fora esta cãimbra. Mas não senti o gozo da viagem de conduzir pela primeira vez durante um período alargado após um ano parada, por estar mais concentrada nos passageiros que me acompanhavam!

Depois dos cumprimentos aos primos e padrinhos, apesar do imenso calor, fui andar um bocado, acalmar, activar a circulação da perna que fica inchada com o calor e por estar semi-parada na condução. Tentava convencer-me: Não correu mal! Pensa assim: se tu não gostas de conduzir o Nissan e até correu bem, imagina quando conduzires o teu "bolinhas" lá na Madeira!!
Fiquei mais satifeita com este pensamento e tentei afastar a ideia imediata que tive da dificuldade que têm aquelas subidas e descidas íngremes de algumas estradas manhosas da Madeira!! Mais um pensamento encorajador: "São só os primeiros tempos, até comprares o carro de mudanças automáticas!"

Ao longo da tarde as dores de cansaço muscular cresciam proporcionalmente á sensação de saber que mais uma etapa foi alcançada! Vaidosa!!Orgulhosa de mim! Um pouco só! !Num desenrasca, se necessário, já sei que consigo conduzir! Não tenho ainda a segurança de antes mas agora é com a prática, o tempo. Vou sugerir á mãe levar eu o carro numa próxima vez que formos ao hipermercado, convencendo-a que sou capaz.

Será que os leitores que me leêm conseguem compreender o quanto significa para mim saber que já consigo conduzir de novo, embora ainda menos bem???

É mais uma vitória!!

2 comentários:

OuSaDiAs disse...

FICO FELIZ POR TI AMIGA...

jinhos
Rosarinho

Judite Pitta disse...

Querida Borboleta, li a sua narrativa com imenso interesse e dou-lhe os parabéns, pois apercebi-me através dela, o quanto deve ser necessário para ter a força interior para ultrapassar tantos obstáculos.É realmente a ideia que faço da Ana: uma pessoa cheia de FORÇA interior e muito determinada. Um grande beijo por isso e também de parabéns pelos ultimos trabalhos na seda. Estão lindissimos todos os lenços!